A doutrina do sacerdócio de todos os cristãos é bíblica. Em Cristo todos os crentes são considerados sacerdotes. Cristo é o nosso sacrifício perpétuo (Ef 5.2; Hb 10.12). Em outras palavras, em Cristo cada crente tem acesso pessoal e direto a Deus sem que haja necessidade da intermediação de um sacerdote profissional.
Na igreja do Novo Testamento o pastor de igreja nunca é mencionado como sacerdote. Ele é o ancião, presbítero ou bispo responsável pelo pastoreio da igreja. O pastor tem função inteiramente diferente do sacerdote. A idéia fundamental de sacerdote é a de um mediador entre o homem e Deus.
A Bíblia é clara em dizer que todo crente "é casa espiritual", “é o templo do Espírito Santo” (1Cr 6.19), isto é, que cada cristão é sua própria “igreja”. Entretanto, não temos sido capazes de superar a dependência espiritual dos clérigos profissionais. E pior: muitos estão ficando cada vez mais dependentes deles. A linguagem utilizada é clara e não deixa dúvidas: o “pastor preside”, o “pastor oficia”, o “pastor consagra”, o “pastor prega”.
Não me entenda mal. O trabalho pastoral é necessário e importante para a edificação do corpo de Cristo (At 20.28; Ef 4.11,12). O que eu estou dizendo é que não existem certas tarefas ministeriais que pertencem exclusivamente àqueles que foram graduados e ordenados para isso. A Bíblia não ensina assim.
A maioria dos crentes leigos quer ministrar em sua família e ambiente de trabalho, cumprindo o mandato evangelístico que Jesus lhes deu (Lc 16.15-18). Todavia, a grande maioria dos clérigos frustra esse chamado impondo a falsa idéia de que pertencem a uma “casta espiritual inferior”.
Assim, os leigos se tornam aprendizes de um ofício em que jamais se graduarão, exceto se formarem-se teólogos e forem ordenados ministros por uma denominação religiosa. Na grande maioria dos casos, os “ministros leigos” serão sempre aspirantes dos “ministros ordenados”.
"A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções" (Augustus Nicodemus).1
Há alguns pensamentos não professados por muitos vigários profissionais: Será que os leigos vão controlar minha igreja? Será que perderei a autoridade? Será que perderei os dízimos deles?
“A verdade fundamental a respeito do sacerdócio no Novo Testamento é esta: o cristianismo é um sacerdócio, mas não tem sacerdócio”.2
1. Augustus Nicodemus foi um dos preletores da 22ª conferência Fiel - Brasil, 2006.
2. BOYER, Orlando. Sacerdote. Pequena Enciclopédia Bíblica. Vida, 199, p.555.