“Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns” (1Co 0.22).
Por muito tempo o mundo dos negócios foi visto pela igreja como um local de pecado e concessões que minam a vida espiritual do crente. Esse modo de pensar tem afastado de Deus e do Salvador milhares de homens e mulheres de negócio.
Infelizmente, muitos pastores de igreja não compreendem as decisões difíceis que o empresariado brasileiro diariamente enfrenta para continuar produzindo riquezas, pagando impostos e gerando empregos. A maioria desses líderes religiosos não tem a menor idéia de como a vida realmente é no mundo dos negócios.
No Novo Testamento a palavra “igreja” (eklesia) significa simplesmente “povo de Deus”. Essa palavra é usada para os cristãos reunidos nas congregações (At 16.5) e dispersos onde quer que eles se encontrem (At 20.28). É o mesmo cristão, mas vivendo em ambientes diferentes, e, portanto, em culturas diferentes. Cada cultura, ou subcultura, tem seu próprio código de conduta, isto é, suas leis escritas e suas leis não escritas. Isso nada mais é que antropologia básica.
O modo de operar de cada cultura não é secreto ou criminoso. É simplesmente a maneira normal de convivência daquela cultura. Por isso notamos a diferença de conduta de um bom cristão aos domingos nos serviços da igreja e outra bem diferente nos outros seis dias da semana no ambiente de trabalho. Se você observar as sete igrejas em Apocalipse, e também as igrejas que Paulo tratou, todos têm uma coisa em comum: a individualidade.
O ambiente empresarial não é pior que o ambiente congregacional, é apenas diferente. Infelizmente, a maioria dos pastores tem a tendência de avaliar a vida e o comportamento dos cristãos pelo padrão do código de conduta da igreja quando está reunida prestando serviço no templo, e esse padrão, de acordo com o entendimento deles, deveria aplicar-se a todos os sete dias da semana, quando a igreja está dispersa no ambiente de trabalho. E é exatamente aí a raiz das incompreensões e dos conflitos.
Esses líderes da igreja local tendem a considerar as decisões éticas em termos de certo ou errado, branco ou preto, sim ou não, sem nenhuma nuança. Entretanto, No mundo dos negócios, muitas vezes, não existe opção boa. A ética no ambiente de trabalho nem sempre é tão simples assim. Se a sua única opção é entre uma decisão ruim e outra pior ainda isso será muito difícil, porque os críticos estarão dos dois lados do argumento.
Não me entenda mal. Não estou propondo a “ética da situação”, nem algum tipo de “relativismo moral”, apenas saliento que há um comportamento apropriado em cada cultura e que nenhuma deles e mais correto e inteligente que o outro. São apenas diferentes porque as bases de relacionamento também são diferentes. Uma é fraternal e outra empresarial.
Quem é empresário sabe que não há como sobreviver no mundo dos negócios sem fazer concessões. Entretanto, há linhas éticas, morais e espirituais que não podem ser ultrapassadas. Tanto José, Daniel e Ester chegaram ao topo porque foram capazes de adaptarem-se culturalmente às culturas egípcia, babilônica e persa, respectivamente, em que se encontravam. Para os três hebreus, a vida profissional envolveu muitas decisões difíceis que levaram a concessões inconvenientes. Entretanto, José não fez concessões à imoralidade (Gn 39), Daniel não fez concessões à idolatria (Dn 3) e Ester não fez concessões à injustiça (Et 4).
Certamente José, Daniel e Ester seriam reprovados pelo código de conduta do povo hebreu, assim como a igreja primitiva reprovou as condutas de Jesus (Pv. 23.20; MT 11.19) e de Paulo (Gl 2.7,8,11-14). Hoje não é diferente.